Para sociólogos e psicólogos, LER é a manifestação somática das angústias do nosso tempo, desencadeada pela organização do trabalho moderno e competitivo em pessoas com perfil emocional suscetível. Para os Médicos (Ortopedistas e Reumatologistas), é um processo inflamatório que acomete os tendões, que se atritam uns com os outros e todos contra proeminências ósseas ou estruturas ligamentares resistentes, durante movimentos repetitivos, empregados em uma série de tarefas executivas nas indústrias (de alimento, automóvel, etc.), nas empresas de serviços (bancos e escritórios em geral).
Na verdade, o conceito é holístico, isto é, abrange os dois conceitos supracitados. LER não é uma doença, mas o mecanismo de lesão provocada por esforço repetitivo que leva à alteração do sistema músculo-esquelético (tendões, nervos, músculos e ossos).
LER – Lesão por Esforço Repetitivo
LER é uma lesão ou distúrbio não relacionado ao trabalho. Ex.: ato de podar ou realizar tosquias por várias horas no final de semana como lazer, levando a dores na mão e antebraço. Jogar futebol em final de semana sem ter um preparo físico adequado, levando à ruptura de tendão ou dor muscular ou articular. Todos nós podemos desenvolver LER. Em outras palavras LER e DORT são a mesma coisa, quando se retrata a litígios trabalhistas denominados DORT.
DORT – Distúrbio Osteomuscular relacionado ao trabalho
DORT abrange todos os sintomas e todas as espécies de sobrecargas biomecânicas em um cenário ocupacional, tal como fábrica, escritório etc.
Hoje em dia, esse distúrbio está afetando cada vez mais pessoas. A competitividade acirrada devido à globalização, com certeza, tem um aspecto negativo, pois exige que mantenhamos jornadas extras de trabalho, gerando distúrbios psicológicos, agravando a tensão muscular (que, por sua vez, estimula mais a contração e dor muscular).
A falta de satisfação com a vida, desmotivação, falta de vocação pelo trabalho e as convicções do indivíduo são ingredientes essenciais para desencadear esse distúrbio LER/DORT.
A faixa mais acometida por pelo distúrbio está entre 30 a 40 anos de idade, numa proporção de 4:1 (mulheres/homens). As mulheres são mais acometidas, porque, geralmente, realizam tripla jornada, isto é, cuidam da casa (família), trabalham e estudam. No Brasil, esse distúrbio é causa comum de afastamento do trabalho, sendo que, nos últimos cinco anos, foram abertas 532.434 CATS (Comunicação de Acidente de Trabalho) sob sua motivação. As categorias profissionais que encabeçam as estatísticas são bancários, digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, jornalistas, etc.
Causas
Temos que “desmistificar” a questão, ao contrário do que alguns declaram, todos esses distúrbios têm tratamento e, felizmente, os casos mais graves ou que não respondem ao tratamento clínico podem ser beneficiados por procedimentos cirúrgicos e por reabilitação específica (Fisioterapia ou Psicoterapia).
O trabalhador com dor ou outro sintoma é sempre portador de LER/DORT?
Absolutamente não. Muitos distúrbios reumáticos, imunológicos, hormonais, metabólicos, infecciosos ou até mesmo diversos tipos de traumas não-ocupacionais podem, todos, ser responsáveis por sintomas que simulam LER/DORT.
Uma pessoa que faz movimentos repetitivos diariamente tem maior propensão a desenvolver a doença?
Nem sempre. Temos que fazer a seguinte pergunta: Se há motivação, se há ergonometria adequada para desenvolvimento de determinada tarefa, os intervalos são adequados, a estrutura física é compatível com a tarefa e, se há qualidade de vida? Se tivermos tudo isso de forma adequada a pessoa ou trabalhador não desenvolverá o LER/DORT.
O que fazer para evitar ou (se já possui LER-DORT) controlar as dores?
A resposta é simples: conscientização e lembrar que: “a postura corporal é a estrutura física” e deve ser respeitada. Além disso:
- Propiciar aos médicos que atendem os trabalhadores um diálogo com a empresa, com intuito de sugerir mudanças no posto de trabalho, conforme as Normas Técnicas do Ministério do Trabalho;
- Dar suporte aos CIPAs (Controle Interno de Prevenção aos Acidentes) das empresas;
- Alertar os trabalhadores quanto aos sintomas, prestar atenção em suas limitações, orientando-os a buscar auxílio médico;
- Interferir nos primeiros estágios do quadro clínico, não esperar a instalação das incapacidades;
Os exercícios de relaxamento que devem ser realizados a cada 50 min por 10 minutos, com duração de 10 segundos, cada um deles.
ESTAS LESÕES PODEM SER EVITADAS SE HOUVER ATENÇÃO COM RELAÇÃO A POSTURAS E MOVIMENTOS INADEQUADOS NO TRABALHO
Colocar objetos de uso constante (ex: telefone, agenda, grampeador, etc.) o mais próximo possível do seu corpo, para evitar o encurvamento corpóreo quando precisar pegá-los;
Instituir pausas regulares na jornada de trabalho, realizando exercícios de alongamento e relaxamento durante o período;
Alternar as atividades durante o período de trabalho no intuito de minimizar as repetições (rotação de atividades);
Praticar exercícios aeróbicos pelo menos três vezes por semana;
Ao trabalhar sentado, os pés devem estar sobre algum apoio e nunca suspensos;
Fora do trabalho, evite realizar tarefas que tenham o mesmo padrão de movimento daquelas realizadas no trabalho. (ex. malhar em academia, tricô, computador);
Ao levantar cargas pesadas no chão, flexione os joelhos para não sobrecarregar a coluna lombar. Não é recomendável carregar pesos maiores que 20 kg.
Referências
SEVERO, Antônia L. LER/DORT. Revista Drops. Ano 2. 2010, nº25, p: 30 e 31.
Lech O, Hoefel MG, Severo A., Pitágoras T. Distúrbio Ósteo-Musculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Biblioteca CREMS 2000, p:1-122.
Lech O. Hoefel MG, Severo A. Visão geral das lesões de membros superiores, especialmente as ligadas à sobrecarga funcional. In: Como gerenciar a questão das LER/DORT. Couto HA, Nicoletti SJ, Lech O. Ergo Editora, 1998, p 123-173.